sábado, 28 de dezembro de 2013

Contrução da Korá - Parte 9: Comprando e Preparando o Pergaminho (Couro)


   Propiciou-nos um grande aprendizado a saída para a compra do "couro", pois de cara descobrirmos que ele não atendia por este nome...

   O que procurávamos era "pergaminho de couro", corrigiu-nos o atencioso atendente de uma loja no Brás. Então ele disse: Vá na São João Couros!

São João Couros - Esta loja Amarela: R do Gasômetro 440 - Bras- São Paulo

Lá encontramos o que procurávamos. Os "pergaminhos" já vem no formado redondo (tem também no formato bruto) e então compramos um de acordo com nossas necessidades (na verdade, verificamos depois ser pequeno, mas acabou servindo).


Pergaminho enrolado. Escolhemos um que fosse pouco maior que a boca da cabaça. Deveria ser maior, mas serviu.

-------

      O processo para o pergaminho estar pronto à esticagem passou pelo reforço das beiradas, com uma costura:

Costuramos uma borda dobrando o pergaminho. Fizemos com ele seco, mas depois vimos que com ele molhado seria muito mais fácil.



Então, deixamos o pergaminho de molho em água, numa pia, por 20 minutos.



Após isto, torcemos o pergaminho para tirar o excesso de água e nos preparamos para o processo de esticar o couro.  (PROX.)

Contrução da Korá - Parte 8: Estrutura Interna da Cabaça

Abaixo, segue uma imagem da estrutura final no interior da cabaça, antes de colocarmos o couro.

Ao invés de colocar medidas e explicar passo a passo, cremos que a imagem em si já ajudará para a feitura da mesma estrutura. Todavia, falaremos de alguns pontos.




1- As únicas madeiras que de fato atravessam as paredes da Cabaça são o Mastro (onde ficam cordas e tarraxas) e os Bastões de Mão. O resto das estruturas são fixadas sem atravessá-la.

2) Entre os Bastões de Mão e o Mastro, há um outro bastão (em cruz com o Mastro, chamaremos de B2 ) que está apoiado sobre o Mastro e no qual os Bastões de Mão são colados e parafusados.

3) Abaixo de B2, paralelo, temos uma madeira mais fina (B3), parafusada e colada por cima dos Bastões de Mão. Esta será fundamental para o apoio do couro esticado.

4) Todo o entorno da cabaça foi reforçado por madeiras moldadas (com serra e grosa), coladas e parafusadas nos bastões. Estas madeiras são fundamentais para que a cabaça não ceda ou mesmo quebre com a tensão do couro esticado.

Obs: B2 e B3 são cortados do tamanho necessário para exercerem leve pressão nas bordas internas da Cabaça, nas quais também são colados. Para a colocação dos parafusos, fizemos furos prévios, de calibre ligeiramente menor que os dos parafusos, para não forçar as madeiras.

domingo, 10 de novembro de 2013

Contrução da Korá - Parte 7: Os Bastões de Mão


     "Bastões de mão" é o nome que demos para as duas "pegas" por onde o koralista segura o instrumento com os dedos para tocá-lo.

     Como queríamos uma korá mais reforçada que a que tínhamos (que veio do Mali - África), optamos por usar madeiras de cabos de vassoura para tais bastões, mas que acarretaram a necessidade de afinamento na região em que os dedos o tocam, conforme fizemos:

 
 Cada "bastão de mão" tem, neste nosso caso, 54 cm. Importante observar que a medida do bastão, como muitas outras, serão condicionadas ao tamanho final da boca da cabaça. No nosso caso, esta medida se deu aos propósitos.

Por outro lado, uma medida poderá ser considerada fixa, que é a de região de entalhe:
 



Os outros 20 cm que faltam são, evidentemente, a parte inferior que ficará dentro da cabaça.
 Como entalhe não é um trabalho preciso, cada um ficará livre para fazê-lo da melhor forma. Usamos uma pequena faca, bem afiada, com a qual fomos retirando lascas da madeira. Após o entalhe, submetemos os bastões a lixagem e o resultado poderá ser observado na próxima postagem.

Não será difícil achar madeiras roliças mais finas e, portanto, que darão menos trabalho ou mesmo nenhum. 

Agora, na próxima postagem, iremos à montagem da estrutura interna da korá, que incluirá a colocação destes bastões e ostras estruturas.

Vamos lá?
Saudações

 





quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Contrução da Korá - Parte 6: Colocação do Mastro

A colocação do mastro na cabaça é o momento em que a KORÁ começa a ganhar sua forma e pode-se ver o seu esqueleto.

Para colocá-lo, optamos pelas medidasna figura a frente. Marcamos com um lápis.

 Notar que o furo superior está 2 cm mais próximo à borda. Assim, na nossa KORÁ, o mastro ficará inclinado para a frente com a intenção de diminuir um pouco a tração final das cordas sobre o mastro, haja que optamos pela madeira "pinus taeda" para o mesmo (Madeira mole).



Para efetivar o furo por onde passará o mastro usamos um "furador", ferramenta pontiaguda geralmente feita pelos próprios marceneiros com um prego e um cabo, mas que poderá ser substituída por uma chave "Philips" de pequeno calibre ou por qualquer outro utensílio que sirva para fazer furos ou marcações.



Fizemos pequenos furos seguindo os riscos pré marcados. Apesar de muito resistente a pressão, a cabaça é facilmente vazada.


Por fim, com algum jeito, foi fácil retirar a parte interior.




Assim, após retirar a parte interna, mais alguns ajustes, colocamos por fim o mastro. Calços e cola foram usados para que ele ficasse de fato preso à cabaça. Perceba a medida do furo da corda 1 à cabaça (17cm), uma referência importante para as relações geométricas. No entanto, daí para baixo as medidas não podem ser padronizadas medidas por um motivo simples: as cabaças são todas diferentes e, daí para baixo, cabaça e mastro terão que se "contentar" com as condições disponíveis.


É isso aí! Vamos em frente!

Saudações
RT




 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Contrução da Korá - Parte 5: Furações no Mastro


Para textos e detalhes, Baixar e Abrir Figuras no tamanho original.   :)


Continuando o processo de construção do bastão, cremos ter concluído a parte mais complexa e que demandou mais cuidado e precisão.

O Bastão necessita de furos para as cordas, para as tarraxas e para a colocação das cordas nestas. Todos estes furos tem que seguir medidas que possibilitem as relações corretas entre as cordas. Teve-se de considerar que há cordas que serão direcionadas para um lado do bastão, outras para o outro. 

Assim, optamos por um esquema em figuras, as quais dirão mais e melhor àqueles que já tem alguma habilidade com luthieria ou mesmo marcenaria. Aos que estão tentando fazer um instrumento pela primeira vez...  Um pouco de perspicácia, coragem e vontade compensarão esta parte! Todavia, algumas pesquisas em relação a corte de madeiras e afins ajudarão muito.

Vamos às figuras então.

-------------------




---------------------------------------

















Esta imagem é da parte frontal do Bastão, com os furos das cordas, devidamente medidos a partir do topo, do bastão.

Estes furos foram feitos com furadeira manual, broca de calibre equivalente ao calibre do pino de uma tarraxa de viola (pino fino).

LER INSTRUÇÕES NA IMAGEM
SALVAR E ABRIR FIGURA TAMANHO ORIGINAL




Este é o lado LESTE do bastão (Vendo pela frente, de onde saem as cordas).

Aqui ocorrem os furos por onde entram os pinos das tarraxas. Como apenas algumas cordas terão suas tarraxas neste lado, observar na figura quais são estas cordas.

Medidas e outros detalhes: SALVAR E ABRIR FIGURA TAMANHO ORIGINAL

------------------------------------

Lado OESTE: Seguir orientações da figura
SALVAR E ABRIR FIGURA TAMANHO ORIGINAL

------------------------------------------

Parte de Trás do Bastão
LER INSTRUÇÔES NA FIGURA
SALVAR E ABRIR FIGURA TAMANHO ORIGINAL




Assim, cremos, terminamos o "grosso" do bastão. Os detalhes finais serão tratados em próxima postagem!

Saudações!

RT


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Contrução da Korá - Parte 4: Cortando a Cabaça


  Confesso que não sabia o que encontraria dentro da cabaça, ao cortá-la. Que havia sementes, sim, mas não imaginava se haveria além disso... Não fui surpreendido: Eramm basicamentem sementes e pedaços de uma capa interna (lembrou-me aquela capa que protege o caroço do abacate):







 Como a cabaça é irregular, não pude estabelecer nem mensurar uma medida exata para o corte; digo, a altura em que seria cortada. Na verdade, não utilizei uma marcação, cortando "a olho" com uma serra de fita ( facilmente encontrada em lojas de material para construção):


Cabaça serrada. Ferramenta: lâmina para arco de serra 12" (Sem o arco)

... Num dado momento, houve um acidente e um pedaço da cabaça, descuidadamente, foi quebrado:




 Mas como estamos mexendo com madeira (a cabaça não deixa de sê-lo), resolvi o ocorrido colando o pedaço de volta. De qualquer forma, creio que se deva evitar ao máximo ter que recorrer a este procedimento pois, pela irregularidade da forma da cabaça, foi muito difícil achar uma posição para manter as partes pressionadas durante o processo de secagem da cola.  Aproveito para informar que usarei, para todas as colagens, a cola CASCOREZ (Qualquer mudança será informada)

Cola Usada para as colagens da KORÁ




Cabaça após o conserto com cola de madeira...
Mas com muitas irregularidades...



.....  Alguns dias depois ....

Cabaça devidamente regular na borda cortada











sábado, 12 de outubro de 2013

Contrução da Korá - Parte 3: Moldando o Mastro

Após a colagem das duas ripas, chegamos a uma "super-ripa" com 4cm (lado duplo colado) x 5cm x 150cm.

No entanto, avaliamos que para nosso projeto o interessante seria uma ripa de 4cm x 4cm. Assim, tivemos que tirar 1 cm do lado de 5cm. Para tal, após marcarmos o pedaço excedente, usamos uma serra tico-tico.



Madeira apoiada e já em processo de corte

A parte excedente já cortada

      ...e então nos defrontamos com um problema. Como a serra utilizada não tinha uma guia, o corte não ficou preciso, o que anunciava um processo de correção que estaria por vir...

Por fim, após o uso de uma grosa (ferramenta de desbaste muito comum em serviços de marcenaria) e lixas 60, 80 e 120, chegamos a um resultado satisfatória para o lado cortado, o qual ficou propositalmente abaulado.

Lado desbastado e lixado. Mastro ficou com 4cm x 4cm x 150cm

Assim, temos agora o mastro bruto, pronto para medições e furagens!

(Cont...)

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Contrução da Korá - Parte 2: O Mastro

Tomo a liberdade de chamar de "mastro" a peça transversal da Korá da qual saem as cordas (mesmo porque as similaridades com o mastro do navio são muitos, a meus olhos, claro).

Na escolha da madeira para esta parte, fiquei atento a dois aspectos: resistência x peso. A madeira deveria ser resistente para suportar a tensão das cordas, no entanto, o instrumento não deve ser tão pesado para uma maior mobilidade.

Após algumas andanças ali mesmo no bairro do Brás, na rua do Gasômetro...
Esta loja fica no começo da rua do gasômetro, mas como a madeira que compramos é encontrada em qualquer madeireira, não achamos necessários muitos detalhes da loja.


 ...achei um opção que me pareceu viável. Ripas de 2cm x 5cm.


Compramos uma peça de 3 metros, já pensando em cortá-la pela metade e colar uma na outra. Assim, com cola de madeira (CASCOREZ), juntamos as partes com sargentos as partes (os lados de 5cm).


(Continua prox.)



domingo, 6 de outubro de 2013

Contrução da Korá - Parte 1: A Cabaça



     Nestes tópicos iremos diarizar todo o processo de construção de nossa Korá, que começará pela compra do material. Pediremos desculpas pela economia nos assuntos que forem dispensáveis e desnecessários, para que possamos focar nos detalhes mais interessantes e que possam ajudar efetivamente àqueles que quiserem repetir o processo e. por fim, fabricar sua Korá.

    Assim, foi num dia de Outubro de 2013 que compramos nossa cabaça de dentro deste saco à porta da loja.

A loja fica no Brás, na rua Paulo Afonso. A foto é do GOOGLE MAPS, mas acreditamos ser o mesmo saco quando lá estivemos...

E então adquirimos nossa cabaça:


Imaginamos que as cabaças chegam a estas lojas perto da forma como foram colhidas, ou seja, sujas e rústicas. Então, providenciamos um banho a nossa cabaça:

Após a lavagem, uma cor maravilhosa apareceu!


   

1 - Korá - Onde tudo começou....

Conheci a Korá quando, de amigo em amigo, fui achado por Salloma Salomão que apareceu com o instrumento nas mãos.

Korá - a Harpa Africana

 
Vale dizer que eu era (e ainda sou..) harpista e foi por este mote que ele chegou até mim, supondo que eu poderia me adaptar ao instrumento e participar de seu CD.

Salloma e tambores africanos

A participação ocorreu e começamos então um convívio musical, pessoal e nossa amizade já dura muitos anos. "Executei" a Korá da melhor forma que pude, mesmo porque Salloma apenas queria a sonoridade do instrumento em suas músicas, enquanto eu nunca me interessava em tornar-me um koralista.

Assim, nestes mais de 10 anos, foram idas e vindas de Korás em minha casa. às vezes, elas ficavam meses comigo e eu, de tempos em tempo, "brincava" um pouco com ela. Obviamente, quando íamos gravar ou tocar, tirava os trechos necessário mas... só. Nunca me aprofundava mas desde sempre me perdoava porque, de fato, não tinha interesse e estava tudo certo então. Mesmo assim, tocávamos bastante, viajávamos e tudo seguia a contento.

Com Salloma em Rio Braco - Acre




Gravação de um dos CDs de Salloma salomão - 2011
Todavia, somos como um balaio cheio de coisas a baterem umas nas outras... Como a própria cabaça de que é feito o corpo da Korá! Quando colhida é cheia de sementes que ficam a se bater lá dentro. E num desses balanços do balaio, prá lá e pra cá, alguma coisa lá dentro se acomodou numa posição não convencional, por que não dizer, inconveniente... De repente, comecei  a mexer e remexer a internet para ver africanos, europeus e até brasileiros tocando a Korá, e fiquei extasiado... Na verdade, subestimei o instrumento, sua sonoridade, sua história, a cultura de que emerge. Subestimei tudo e profanei seu santuário com minha leitura desleixosa. Ah! É a pura verdade, e só admitindo os fatos, mesmo quando dolorosos, podemos seguir em paz.

Eu e Salloma em sua casa - 2012

Assim, a partir de agora, começo o trajeto novamente começando pelo processo "zero": Fazer uma Korá!
Bem...  também sou "meio" luthier e assim é-me um prazer a pena de começar por isto.




 Para acompanhar o processo, é só seguir nossas postagens!



A economia nas palavras será fundamental para atentarmos ao grosso do assunto.

Obviamente, ouviremos o som dela em breve!

Saudações

RT